A excentricidade e a busca por provações que fogem do conceito de normalidade, foram um diferencial entre vários artistas, não restrigindo isso apenas ao campo musical. A tendencia em vivenciar conflitos internos cada vez mais intensos, permitiu com que muitos deles conseguissem alcançar um grau altíssimo de degradação física e psicológica, sustentada por intermédio de drogas, álcool e outros combustíveis viciantes.
Muitos músicos procuram nas drogas a fonte papa a inspiração de sua arte. Keith Richards, declaradamente viciado em maconha declara abertamente: "Nunca tive problemas com as drogas. Tive problemas com a polícia.", e completa "O segredo da minha longevidade é o facto de usar drogas de qualidade".
Não haveria espaço neste blog para comentar sobre os músicos envolvidos com entorpecentes, mas um em especial supera todos os limites da auto-destruição: Jim Morrisson.
Há quem diga que para um ídolo ficar eternamente na memória dos fãs, precisa de morrer no auge de sua carreira, e Jim fez isso muito bem! Após o sucesso obtido com sua banda em primeiro álbum, auto-entitulado "The Doors", de 1967, Jim iniciou um sequência de provações, cada vez mais destrutivas, envolvendo o forte uso de ácidos barbitúricos e álcool.
Rebelde sem causa? Deixo a pergunta no ar para o leitor chegar as suas próprias conclusões no final deste texto.
Morrison cresceu na Califórnia numa família de classe média. Durante a sua infância, contou com a ausência da figura de seu pai, que participou como piloto na 2ª Guerra Mundial.
Quando tinha 4 anos, presenciou um acidente que marcou a sua vida. Vários índios que trabalhavam como "bóias-frias" morreram durante o choque de dois camiões numa estrada que liga Santa Fé a Albuquerque. A imagem da tragédia ficou para sempre na mente de Jimbo, que descreve o momento como "o mais importante de toda a sua vida". Daí, parte seu lado espiritualizado, envolvido com o xamanismo e a cultura indígena.
Mesmo ausente, seu pai, George S. Morrison, quando estava por perto, buscava se aproximar de Jim, que agia de maneira arredia e não permitia um entendimento familiar. Sempre agiu como seus pais estivessem "mortos", porém eles eram figuras com carreiras estáveis e respeitáveis ( a mãe de Jim era funcionária pública), consumidores do "american way of life".
Morrison ingressou na faculdade de artee cinema da Universidade da Califórnia em Los Angeles. Lá encontrou um ambiente que lhe permitiu aprimorar seu conhecimento literário para expor seu pensamento contrário ao mundo em que vivia. Sua fonte de inspiração estava em obras de poetas franceses e no romancista William Blake, um escritor inglês radicado nos Estados Unidos, tido como o pai do romance cerebral, com livros onde expõe seu ceticismo quanto ao futuro do mundo, e que são repletos de considerações morais. Seu romance, "As portas da percepção", inspirou Morrison até no nome da banda.
Jim não respeitava limites. Durante seus shows, arrotava no microfone, xingava o público e chegou até a mostrar seu pénis para a pralteia em Miami. O constante uso de álcool e ácidos, antes e depois de suas apresentações, levaram-no para a o posto da policia várias vezes. Seus próprios companheiros deixam bem claro a admiração pelo talento do cantor e compositor, porém, quanto ao seu comportamento, os 3 doors são unânimes "Ele estav nos frustrando com a sua auto-destruição", ressaltava o baterista John Desdenmore.
Para quem dizia que se via como "um cometa enorme e feroz" ou dizia: "Sou o Rei Lagarto, posso fazer tudo", Jim mostrava seu definhamento moral e físico. Em 1969, após o lançamento de "The Soft Parade", álbum sem muita inspiração, Morrison reaparece barbudo e gordo, trazendo na sua imagem o retrato de sua decadência. Os críticos acreditavam que os Doors estavam no fim, porém Morrison Hotel (1970) e L.A. Women (1971) resgatam o prestígio e as raízes blues da banda.
Após as gravações do último álbum, Morrison decide viajar para Paris, onde busca se encontrar com seu lado mais poético. No dia 3 de Julho de 1971 é encontrado morto numa banheira, por sua namorada Pámela Courson. O cantor, que renegou a presença de seus pais durante toda sua carreira também foi desprezado por eles, e acabou sendo enterrado em Paris mesmo.
O que Jim fez do seu corpo através de suas viagens lisérgicas é o que muitos até têm vontade de fazer mas não possuem coragem para o concretizar. Seu desgosto pelas contradições do mundo em que vivia, seus conflitos internos e a negação de sua família fizeram com que ele se isolasse numa redoma, caminhando sozinho rumo a uma porta que o levou ao fim, como no conto "A porta na parede" de H.G. Wells, onde um homem, na busca por um mundo mágico e repleto de maravilhas, acaba por encontrar a morte ao transpor uma porta amaldiçoada.
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